Atualizado: 14 de jul. de 2020
Durante o pré-cambriano, a atmosfera primordial do nosso planeta continha os elementos essenciais para a formação das moléculas que compõem os seres vivos, como o carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (CHON). Fatores como a água, a temperatura elevada e as descargas elétricas constantes proporcionaram reações químicas, fazendo com que, gradualmente, esses elementos se tornassem substâncias orgânicas, essenciais para a vida, como aminoácidos, bases nitrogenadas e glicose. Essa é a teoria proposta por Oparin e Galdane, nomeada de “sopa primordial”, pois os mares primitivos eram ricos em matéria orgânica.
Um exemplo de como os organismos procariontes, os primeiros a serem originados, podem ter se tornado mais complexos é a teoria endossimbiótica, proposta pela bióloga Lynn Margulis, a qual diz que algumas organelas são descendentes de organismos procariontes que existiam em uma associação simbiótica com outros organismos procariontes, ou seja, um vivia dentro do outro numa relação que favorecia ambos. Essa teoria se aplica a organelas importantíssimas, como as mitocôndrias e cloroplastos.
Pertencente ao Reino Monera, assim como as bactérias, as cianobactérias (também conhecidas como “algas-azuis”) são organismos unicelulares que podem estar organizados em colônias e são procariontes. Podem ser encontrados em água marinha, doce e termal de temperatura elevada. Há registros desses seres de 3,5 milhões de anos atrás, no Arqueano, estes sendo chamados de estromatólitos
Os estromatólitos são rochas sedimentares cuja estrutura foi formada pela deposição desses seres unicelulares ou de outros tipos de bactérias.
Mas você certamente deve estar pensando: como um ser procarionte pode ter alguma relação com as plantas? Afinal de contas, a diferença de reinos traz consigo muitas diferenças estruturais desses seres.
Uma coisa que ainda não foi falada para vocês é que as cianobactérias apresentam pigmentos dispostos pela sua célula, como a clorofila, ficoeritrina e ficocianina. E esses pigmentos, principalmente a clorofila, também são encontrados em plantas, mas de uma forma mais organizada, em compartimentos celulares, ou melhor, em organelas que são denominadas como “plastos”- sendo cloroplasto a organela que contém a clorofila.
Esse pigmento para as plantas é essencial para a nutrição (já que estamos falando de organismos autótrofos!), tendo em vista que uma das características mais importantes do Reino Vegetal (e talvez a primeira que venha em nossa mente ao falarmos de planta) é a fotossíntese: síntese de carboidrato a partir de energia luminosa que é “captada” pelo pigmento.
Coincidentemente, as cianobactérias são seres capazes de realizar fotossíntese, assim como as plantas, aproximando seres de reinos tão diferentes e distantes. Visto a idade desses seres unicelulares, podemos ver há quanto tempo já existem seres fotossintetizantes no nosso planeta! É possível que esses microscópicos seres fotossintetizantes tenham formado as primeiras concentrações de oxigênio na atmosfera terrestre primitiva a partir de sua atividade (lembrando sempre que um dos produtos da fotossíntese é o oxigênio).
Em suma: por realizar fotossíntese (graças a presença de pigmentos), as cianobactérias são muito comparadas com as algas e por não apresentar envoltório nuclear são muito comparadas e pertencem ao mesmo reino das bactérias, classificando-as como seres procariontes.
Cianobactérias.
E quando falamos em escala evolutiva das plantas temos uma relação interessante com as algas. Algas verdes representam um grupo que pode ser encontrado na forma unicelular ou pluricelular, são eucariontes e autótrofos: sim, produzem seu alimento através da fotossíntese! As semelhanças entre as algas e as plantas (briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas) são inúmeras, o que leva muitos pesquisadores a acreditar que as algas deram origem às plantas terrestres.
Dentre as semelhanças podemos destacar a origem de um tipo especial de clorofila que ocorreu nas algas e é presente nas plantas: a clorofila a (pigmento responsável pela fotossíntese) e clorofila b e carotenoides como acessórios. Outras semelhanças são a presença de reserva de amido no interior dos cloroplastos e parede celular rica em celulose (encontrada em algumas algas e em todas as plantas). Incrível, né?! No fim do pré-cambriano, há aproximadamente 600 milhões de anos, houve a primeira explosão de vida multicelular, chamada de biota Ediacarana. Foram encontrados fósseis, nos montes de Ediacara, de uma biota multicelular macroscópica, provavelmente organismos sésseis, de corpo mole, com aspectos parecidos com os cnidários, algas e vermes modernos.
Apesar disso, foi no período Cambriano que houve o surgimento, em um período relativamente curto de tempo, dos principais filos que conhecemos, durante a explosão Cambriana.
Um exemplo de ser multicelular, primitivo, porém que existe atualmente, são os poríferos. As esponjas do mar, ao contrário do que muitos pensam, não fazem parte do mesmo sub-reino que os animais que conhecemos, que é o Eumetazoa. Elas estão inclusas no sub-reino Parazoa (do grego para, ao lado de + zoon animal), representando uma transição, isso por não possuírem tecidos definidos. As células das esponjas possuem um alto nível de independência e um baixo nível de especialização, diferente dos outros animais, cujas células são especializadas, formando tecidos verdadeiros.
Quando você estuda mais a fundo a organização celular dos poríferos, é possível notar certa similaridade com alguns tipos de protozoários e também é possível associar esses seres com a teoria sobre a evolução da multicelularidade colonial.
Uma das teorias que explica a evolução da multicelularidade é a Teoria Colonial, esta diz que, protozoários flagelados unicelulares uniram-se, formando um agregado, uma colônia, cujas células desta foram se especializando para diversas funções, formando, por exemplo, células reprodutivas. Um exemplo de ser unicelular que pode viver em colônia são as cianobactérias. Elas podem ser encontradas em vários níveis de colonialismo, podendo até chegar a não ter separação entre uma célula e outra, havendo fluxo de citoplasma; mas também podem ser encontradas em forma de filamentos pluricelulares, no qual há várias células juntas, sem haver fluxo de citoplasma. Também há protozoários que podem ser encontrados em forma colonial, como foi dito anteriormente, como os flagelados que se encontram fisicamente conectados e dependentes.
Teoria Colonial de Multicelularidade.
As esponjas do mar possuem uma camada de revestimento interno formada por células flageladas chamadas de coanócitos, responsável pela circulação de água e pela captura de alimento. As células dessa camada possuem características similares aos protozoários chamados de coanoflagelados. Tanto os coanócitos, quando os coanoflagelados, são células que possuem um flagelo em um dos polos, rodeado por um “colar”, que é uma estrutura plissada na qual ficam presos os nutrientes obtidos a partir do batimento do flagelo. Portanto, ao provocar a movimentação da água ao seu redor com o flagelo, nutrientes ficam presos ao “colar” e são fagocitados pelo organismo/célula. Isso sugere que, em algum momento do passado, as esponjas e os coanoflagelados tiveram algum ancestral em comum, visto que esses protozoários também conseguem viver em colônia.
Coanoflagelados e Coanócitos.
Barbara Mariah Chagas Teberga Estudante de Ciências Biológicas (Licenciatura) Colunista de Zoologia (ZOOLOGIA X BOTÂNICA)
Isabella Aparecida Fonseca Bertoleti Estudante de Ciências Biológicas (Licenciatura) Colunista de Botânica (ZOOLOGIA X BOTÂNICA)